Corretoras tradicionais vs Corretoras de cripto
Vamos colocar "cada macaco no seu galho"
No artigo sobre como escolher corretoras, apresentei uma divisão entre as corretoras para Acções/ETF’s e corretoras para Criptoactivos.
No entanto, vejo muitas pessoas a utilizarem corretoras tradicionais (Acções/ETF’s) para comprarem também as suas primeiras Criptomoedas, deparando-se com dificuldades mais tarde.
São vários os posts em fóruns online, com queixas relacionadas com esta situação.
Por isso, aqui está um novo artigo, não para repetir o que já disse no anterior, mas para tentar tornar mais claras as diferenças entre os dois tipos de corretoras.
Isto não é uma questão de qual corretora é melhor. É uma questão de cada “macaco no seu galho”.
Há corretoras que são mais indicadas para uns activos do que para outros. Tão simples como isto.
Da mesma forma que temos mais do que uma conta bancária, por diferentes motivos, o mesmo é recomendável para quem encara os investimentos de forma séria.
É importante perceber que, o comodismo de usar uma app para tudo, tem custos e limitações - e, olhando para muitos posts e comentários online, é fácil de perceber que há uma quantidade considerável de pessoas que não têm consciência ou não estão informadas sobre as diferenças.
Além do comodismo de ter tudo centralizado numa app (que só por si, já é um risco), há também outro motivo que justifica este comportamento: o desconhecimento da natureza/características dos Criptoactivos.
Apesar das semelhanças que possam existir entre Criptomoedas e Acções, é importante entender que elas não devem ser tratadas da mesma forma.
Para quem está agora a tomar o primeiro contacto com Criptomoedas, recomendo a consulta dos primeiros artigos sobre o tema, para entender melhor as diferenças.
A propriedade e a confiança em terceiros
Comecemos por uma diferença fundamental entre Acções/ETF’s e Criptoactivos: a propriedade.
No caso das Acções e ETF’s, por enquanto, ainda temos de confiar nas corretoras e suas parceiras, para guardarem e gerirem responsavelmente os nossos activos.
No caso da custódia de Criptoactivos não há necessidade dessa confiança - a tecnologia da blockchain permite que sejamos nós a escolher a melhor forma de guardarmos os nossos activos.
Podemos perfeitamente deixá-las numa corretora, confiando na sua gestão e segurança OU, podemos transferir para uma carteira gerida por nós.
Esta é uma das principais diferenças entre corretoras tradicionais e corretoras de cripto:
❌ Nas primeiras, tal como nas Acções/ETF’s, somos forçados a confiar nelas e nas suas parceiras.
✅ No caso das corretoras de Cripto, temos a opção de transferir os activos para uma carteira gerida por nós.
Revolut, Degiro e Trade Republic, são exemplos de “corretoras tradicionais” que já permitem a compra de criptomoedas, mas não permitem a transferência das mesmas para as carteiras geridas por nós. 1
Activos propriamente ditos VS contractos futuros (CFD’s)
Outra diferença, tem a ver com os activos propriamente ditos.
Muitas pessoas não se apercebem mas, algumas corretoras não dão acesso às criptomoedas propriamente ditas, mas sim a contractos por diferença (CFD’s), que são produtos financeiros mais complexos e com alavancagem.

Os CFD’s são produtos financeiros de alto risco, totalmente desaconselhados a pessoas sem experiência. Em vez de comprarmos um activo ao preço de mercado, que fica registado em nosso nome, com um CFD, compramos um contracto alavancado com um determinado valor futuro do activo em questão.
Nas corretoras dedicadas a criptoactivos, também é possível comprar CFD’s e produtos derivados. Mas, estas corretoras fazem uma distinção clara entre estes produtos e as compras compras spot (compras a mercado - o recomendado para a generalidade das pessoas).
Ou seja:
❌ Algumas corretoras tradicionais só disponibilizam compra de criptomoedas através de CFD’s;
✅ As corretoras especializadas em criptomoedas, fazem uma distinção clara entre compras spot (a mercado) e compras através de produtos alavancados.
Custos (fees e spreads)
Outra diferença significativa entre corretoras tradicionais e as especializadas em cripto, está nas comissões que cobram aos seus utilizadores (fees e spreads) por cada compra/venda.
De uma forma geral, TODAS as corretoras cobram duas comissões por cada compra/venda que fazemos (por vezes não o dizem explicitamente, outras vezes juntam as duas e dão-lhe outro nome):
fee de transacção: no caso das especializadas (Binance, Coinbase, Kraken), esta fee varia entre os 0,1% e os 1% por transacção. No caso de corretoras como a Revolut, esta fee varia entre os 0,49% e os 1,49% consoante o plano de subscrição de cada pessoa. No caso da Degiro, a fee actual é de 0,50%.
spread - resulta da diferença entre o valor a que queremos comprar um activo e o seu real valor de mercado. Em activos com elevada liquidez e mais estáveis, os spreads tendem a ser baixos. O inverso também é aplicável. Por esse motivo, algumas corretoras podem aplicar spreads mais elevados, para se proteger da diferença entre os pedidos dos clientes e as constantes variações do mercado. Infelizmente, os spreads são um valor que nem sempre é transparente e que pode aumentar os custos.

De salientar também que, no caso de algumas corretoras de criptomoedas, é comum acontecerem períodos promocionais em que as fees são reduzidas ou até oferecidas, principalmente se tivermos em carteira os tokens das próprias corretoras (exemplos: $BNB no caso da Binance ou $MNT no caso da ByBit).
No entanto, diria que o ponto anterior é relevante apenas para quem faz compras/vendas com muita regularidade.
Conclusões
Além das 3 grandes diferenças enunciadas em cima, existem outras duas a considerar:
A quantidade de activos: as corretoras especializadas em criptoactivos têm uma oferta bastante superior de tokens disponíveis para compra/venda. As corretoras tradicionais, geralmente, disponibilizam apenas as criptomoedas maiores ou mais conhecidas.
A vertente legal: as corretoras tradicionais, por estarem há mais tempo no mercado e devido à variedade de produtos que oferecem aos seus clientes, têm tendência a ser mais rigorosas no cumprimento das leis que regulamentam os diferentes tipos de activos. No entanto, desde a entrada em vigor da MiCA, as corretoras de cripto têm estado a implementar uma série de medidas que lhes garanta as licenças necessárias para poderem continuar a operar na Europa.
Esta lista poderia continuar, mas as restantes diferenças aplicam-se a traders e profissionais e não tanto a investidores de retalho.
Resumindo e reforçando a ideia inicial: não existem corretoras perfeitas. Existem umas mais indicadas para uns activos, do que para outros.
✅ Corretoras Tradicionais (Degiro, IBKR, Trading 212, XTB) = Acções e ETF’s.
✅ Corretoras de Cripto (Binance, ByBit, Coinbase, Kraken) = Criptomoedas (Spot).
Utilizar mais do que uma corretora, não é disparate nem desperdício de tempo - a diversificação, é um dos mandamentos de um bom investidor 😉
Como de costume, os nomes aqui mencionados, são os das empresas mais conhecidas do mercado e não constituem qualquer recomendação de investimento.
A ideia deste artigo, é simplesmente a de apresentar uma forma de analisar este tema.
Cabe a cada pessoa validar os dados (que podem ser alterados pelas corretoras a qualquer momento) e escolher as opções que mais se ajustam ao seu perfil de investidor.
ACTUALIZAÇÃO de 20/11/2025
2 dias depois da publicação deste artigo, a Trade Republic anunciou a sua crypto wallet, permitindo assim a transferência de criptomoedas.
Esta é uma novidade importante, pois trata-se da primeira corretora europeia com licença bancária, a dar um passo significativo na adopção de criptoactivos.
Desde 14 de Novembro, a Trade Republic tornou-se na primeira das corretoras tradicionais, a disponibilizar a possibilidade dos seus clientes fazerem a custódia dos seus criptoactivos, se assim entender.


