Por esta altura, já deverás saber que a melhor forma de comprar Acções, ETF's ou Criptomoedas, é através de correctoras ou de alguns bancos.
Vou deixar os bancos de fora, por causa das comissões e taxas que cobram e porque, um dos objectivos do Diário Cinzento, é o de dar a maior autonomia possível aos seus leitores/as.
Além disso, "a melhor correctora" é uma classificação muito subjectiva, já que cada pessoa sabe do que gosta mais e do que é mais importante para si.
Mais em baixo, vou mencionar alguns nomes, bastante conhecidos no meio, mas que, não são recomendações. As recomendações que eu gosto de fazer aqui podem resumir-se a 4 palavras: pensar pela nossa cabeça.
Além disso, as regras e condições das correctoras, podem mudar a qualquer instante (e, às vezes, mudam mesmo).
Neste sentido, aquilo que me parece pertinente partilhar, são os aspectos a considerar na hora da escolha de uma correctora. Se estavas à espera que te dissesse que a "A" é melhor que a "B", lamento desiludir - este Diário não existe para te dizer o que fazer mas sim, para te dar ferramentas que te ajudem a fazer as melhores escolhas para a tua realidade.
Correctoras para Acções e ETF's
Um bom histórico - é uma correctora com vários anos de experiência e que já passou por várias fases de mercado? Existem muitos registos de problemas operacionais?
A variedade de activos - a maioria das grandes correctoras, tem uma grande variedade de Acções. No que toca a ETF's, a variedade já não é bem a mesma. Convém confirmar se têm os ETF's dos sectores, índices, matérias primas ou áreas geográficas que nos interessam.
As comissões - de compra/venda, de inactividade e de levantamentos. Há correctoras que cobram por umas coisas e que não cobram por outras. É preciso ver se compensa pagar comissão por cada compra/venda. É preciso ver se é uma correctora que cobra taxas, se estivermos mais de 1 ano sem realizar transacções. E, não esquecer que, há correctoras que cobram um determinado valor, quando queremos retirar o dinheiro para a nossa conta bancária.
As taxas de câmbio - este pormenor é muito importante, para quem tenciona comprar Acções/ETF's cotadas em outra moeda, que não o Euro.
Acções fraccionadas - esta opção, que nem todas as correctoras disponibilizam, permite (como o próprio indica), comprar apenas uma fracção (0,1 ou 0,5) de uma Acção ou ETF, em vez de ter de comprar unidades inteiras. Isto pode ser útil para algumas pessoas que estão interessadas em Acções/ETF's específicos e que têm valores unitários elevados. Por outro lado, é sempre bom relembrar que as Acções fraccionadas não são totalmente nossas. Só quando compramos unidades inteiras de um activo, é que elas são efectivamente nossas;
Segregação de contas (ou de activos) - as correctoras que fazem segregação de contas, comprometem-se a manter as contas/activos dos clientes separadas das suas próprias contas/activos. Isto significa que, na eventualidade de uma falência, os nossos activos deverão estar salvaguardados, uma vez que são mantidos em contas separadas das da correctora. Este ponto está directamente relacionado com o anterior, na medida em que, só unidades inteiras são consideradas como activos de clientes no caso de pagamentos de compensações ou transferências de portfolios;
Regulamentação - convém verificar se a correctora está sujeita às regulações da União Europeia e que responde a uma entidade fiscalizadora de, pelo menos, um país membro (a BaFin da Alemanha e a CMVM de Portugal, são dois exemplos).
Residência fiscal - este ponto é importante para digital nomads ou pessoas que estejam a planear mudar o país de residência fiscal no futuro. Apesar de parecer que todas estas empresas são multinacionais, algumas delas operam de forma local. Isto significa que, se abrirmos conta com residência fiscal em Portugal e depois mudarmos essa morada para outro país, poderemos deixar de conseguir usar a nossa conta - isto deve-se ao facto de, como referido, algumas correctoras operarem como se fossem empresas locais. A solução? Considerar abrir conta em correctoras que não levantem problemas com as mudanças de residência fiscal para outro país.
Transferência de portfolio - este ponto também pode ser considerado como uma solução alternativa para o problema mencionado anteriormente. Algumas correctoras permitem a transferência do portfolio de Acções e ETF's para outras correctoras. É um processo burocrático e que tem custos, portanto, pode ser um ponto importante a considerar para algumas pessoas.
Valores mínimos - as Acções e ETF's são apresentadas como um investimento acessível ao bolso de qualquer pessoa. E, é verdade. Mas, algumas correctoras podem definir um montante mínimo a partir do qual se pode investir. Convém confirmar se está dentro daquilo que estamos dispostos a aceitar.
Apoio técnico - para algumas pessoas, saber que há uma equipa de apoio técnica do outro lado, pode ser tranquilizante. Praticamente todas as correctoras têm equipas de apoio técnico mas, poucas são as que têm equipas que falem Português.
Funcionalidades extra - algumas correctoras oferecem outras funcionalidades interessantes (consoante os objectivos e estratégias de cada pessoa):
juros sobre dinheiro não investido (não esquecer que, qualquer que seja a % oferecida, ela está sujeita às decisões no BCE, ou seja, não são fixas);
cartões com cashback;
planos de investimento automático (útil para quem gosta da estratégia DCA - Dollar Cost Average);
conta demo, útil para quem quer fazer simulações de compra/venda;
A experiência de utilizador - mesmo que uma correctora nos seja recomendada por um/a amigo/a, só saberemos se temos uma boa experiência de utilização, depois de a usarmos. A parte boa é que, não se paga para abrir conta. Podemos experimentar durante uns tempos e, se não gostarmos da experiência, fecha-se a conta.
Considerando estes pontos, eis algumas das principais correctoras europeias que podes considerar na tua análise: Degiro, Interactive Brokers, Trade Republic, Trading 212, XTB.
Correctoras para Criptomoedas
Quem está familiarizado/a com Criptomoedas sabe que, uma das suas particularidades, é a auto-custódia. Ou seja, um dos propósitos das Criptomoedas é devolver às pessoas, o total controlo sobre os seus activos.
No caso de Acções e ETF's, aquilo que compramos na correctora, fica lá, sob a custódia da correctora ou sob uma terceira parte (pode ser um banco). Confiamos que são empresas sérias e que, nenhuma crise vai afectar os nossos activos.
As Criptomoedas, graças à tecnologia da blockchain, oferecem a possibilidade de serem as próprias pessoas a guardá-las e a geri-las, retirando a necessidade de se confiar cegamente numa exchange.
NOTA: conforme esclarecido no artigo "Brokers ≠ Exchanges", ao utilizar o termo "correctoras" de Criptomoedas, estou a considerar Brokers e Exchanges em simultâneo.
A auto-custódia não é obrigatória, cada pessoa sabe qual a melhor forma de gerir os seus activos. É perfeitamente possível deixar as Criptomoedas na correctora onde se comprou, tal como se faz com as Acções e ETF's.
Por isso, para quem quer investir em Criptomoedas, as correctoras que mencionei em cima e até alguns bancos, não são as melhores opções, porque:
nem sempre permitem que retiremos as Criptomoedas para carteiras digitais geridas por nós;
cobram taxas mais elevadas (salvo algum período promocional);
em alguns casos, o que as correctoras “tradicionais” disponibilizam, não são os activos propriamente ditos, mas sim CFD's (contractos futuros - que são um instrumento financeiro de risco ainda maior);
Feito este esclarecimento, estes são os aspectos a considerar na hora da escolha da correctora para comprar Criptomoedas:
Um bom histórico - no caso das criptomoedas, este ponto é particularmente importante, por estarmos a falar de algo recente, com poucos anos de existência. Por isso, trabalhar com correctoras com mais anos de existência, que já passaram por vários ciclos de mercado, costuma oferecer alguma segurança (nem que seja psicológica).
A variedade de Criptomoedas - a maioria das grandes correctoras, disponibiliza as principais criptomoedas (as do top 20-30). Quem procura outras criptomoedas, mais pequenas, menos conhecidas, deve confirmar primeiro se, a correctora que tem em mente, as disponibiliza.
Criptomoedas fraccionadas - no universo das Criptomoedas, não faz sentido falar deste termo mas, como há muita tendência de comparar Criptos com Acções, acho importante colocar aqui este ponto. É normalíssimo comprar décimas ou centésimas de unidades de uma Criptomoeda e, ao contrário das Acções, essas fracções são efectivamente propriedade tua - quando transferidas para uma digital wallet que tu controlas (futuramente, falaremos delas);
Taxas - todas as correctoras cobram taxas (chamadas de "gas fees") que tem a ver com os custos de utilização da blockchain. Pontualmente, há períodos promocionais em que as comissões de compra/venda são oferecidas. Convém notar também que, estas taxas são geralmente, bastante baixas. As excepções acontecem em determinadas blockchains, principalmente quando o tráfego de utilização é maior, como é o caso da Ethereum.
Taxas de levantamento - algumas correctoras podem cobrar taxas por transferir o dinheiro de volta para a nossa conta bancária, através de transferência ou directamente para cartão.
As taxas de conversão - geralmente, há uma taxa de conversão que é cobrada quando convertemos Euros em alguma criptomoeda. Normalmente, esta taxa é bastante baixa, quando comparadas com os câmbios de Acções e ETF's. No entanto, cada correctora tem os seus preços. Pontualmente, durante períodos promocionais, esta taxa de conversão pode ser oferecida.
Regulamentação - uma correctora que esteja abrangida pelas leis da União Europeia (nomeadamente a MiCA), deve estar registada (ter sede) em algum país europeu. Geralmente, as correctoras comunicam isto de forma clara, já que é um ponto a favor delas. Outra forma de garantir essa conformidade, é através do processo de KYC (Know Your Customer), um processo de identificação dos utilizadores, muito similar ao que é requerido pelas correctoras "tradicionais".
Prova de reservas - como sabemos que as exchanges têm efectivamente a quantidade de activos que dizem ter? Através de auditorias regulares, cujos resultados devem ser públicos, as chamadas proof of reserves. Apesar de ser uma prática que se tornou standard, nem todas as correctoras a seguem.
Apoio técnico - aqui, as correctoras de Criptomoedas perdem claramente para as "tradicionais". O feedback que se ouve por aí, nem sempre é o melhor. Desde lentidão no atendimento, até dificuldades na comunicação, devido à quantidade de línguas. Recordo que a maioria destas correctoras operam a nível mundial.
Funcionalidades extra - algumas correctoras oferecem acesso a funcionalidades como DCA (uma estratégia que facilita a automação de investimentos). Staking, é outra funcionalidade que algumas correctoras disponibilizam, que permite ganhar uma espécie de "dividendo". Lending, é também outra funcionalidade que algumas correctoras têm. Como o próprio nome indica, passa por emprestar as nossas criptomoedas em troca de juros (esta funcionalidade acarreta, obviamente, riscos maiores - estamos a falar do mercado de crédito aplicado a criptomoedas).
A experiência de utilizador - neste ponto, aplica-se exactamente o mesmo que disse para as correctoras "tradicionais". As funcionalidades são muito similares entre elas mas, o design das aplicações de algumas correctoras, pode apelar mais a umas pessoas do que a outras. Só testando mesmo.
Entre as principais correctoras mundiais estão: Binance, Bitstamp, ByBit, Coinbase, Crypto.com, Kraken, OKX.
Tentei resumir este artigo ao essencial, na óptica da simplificação. Futuramente, falaremos de forma mais desenvolvida de alguns dos aspectos aqui mencionados.
E, se depois de tudo isto, ainda tens dificuldade em escolher, é sempre bom relembrar que: não se paga para abrir conta. Podes sempre usar mais do que uma correctora e depois fechar a conta daquela que não gostares 😉