Por uma questão de clareza, neste artigo serão usados os termos originais, em inglês, em vez das traduções - que tendem a variar consoante quem traduz.
Hoje em dia, a maioria das pessoas está familiarizada com o termo Digital Wallet, devido ao Google Pay, Apple Pay ou até ao MBWay mas, para que não haja confusões, no contexto deste artigo e futuros, o termo Digital Wallets refere-se a carteiras digitais para Criptomoedas.
As Digital Wallets, são um dos aspectos mais desprezados por quem começa a comprar Criptomoedas e, são também, um dos aspectos mais importantes na distinção entre o sistema financeiro tradicional e o sistema proposto pelas Cripotomoedas - a auto-custódia.
Dizer que são desprezadas, não quer dizer que seja propositadamente. A grande maioria das vezes, é por uma questão de conforto.
Quando compramos uma criptomoeda num broker ou numa exchange, não podemos dizer verdadeiramente, que ela é propriedade nossa.
Achamos que sim, porque estamos habituados aos sistemas tradicionais.
Estamos habituados a subscrever produtos bancários, que são geridos pelos bancos e confiamos neles.
Estamos habituados a comprar Acções e/ou ETF’s em corretoras e lá ficam porque, não temos alternativas - forçando-nos a confiar nestas empresas.
Como já falámos anteriormente, a blockchain oferece-nos uma alternativa. Uma forma de fazer as coisas de forma diferente e de devolver um pouco mais de controlo às pessoas.
Também já vimos que as Criptomoedas existem na blockchain.
Portanto, quando compramos criptomoedas numa corretora, aquilo que estamos a fazer, é criar um registo de compra no livro de compras/vendas dessa corretora. Ou seja, se formos procurar essa compra na blockchain, não iremos encontrá-la.
O processo que acabei de descrever, acaba por ser então muito parecido ao de comprar uma Acção ou um ETF.
As corretoras não criam registos na blockchain a dizer que o João comprou X ou que a Maria vendeu Y. As corretoras limitam-se a actualizar registos de compra/venda na sua base de dados.
No entanto, é importante entender que, no sector Criptomoedas:
registo ≠ propriedade
Entender esta diferença é fundamental porque:
se a exchange ou broker for à falência, perdemos acesso às nossas criptomoedas;
se a exchange ou broker tiver problemas com a justiça, podemos perder acesso às nossas criptomoedas;
se a exchange ou broker sofrer um ataque informático e forem roubadas criptomoedas, ficamos sem elas;
se a exchange ou broker fizer uma má gestão dos seus activos, podemos ficar sem as criptomoedas que comprámos;
Isto não são teorias, nem meras possibilidades. Já aconteceu por diversas vezes e pode voltar a acontecer. Quem quiser aprofundar e validar esta informação, pode pesquisar por aquilo que aconteceu à Mt.Gox, FTX, Celsius, BlockFi, Voyager, só para mencionar os nomes mais conhecidos.
Em resumo, as compras que fazemos numa exchange ou broker, são registos na base de dados dessas empresas.
Quem quiser beneficiar das potencialidades da blockchain, tem de dar mais um passo: criar uma Digital Wallet e transferir as suas criptomoedas para lá.
As vantagens de ter uma Digital Wallet, são várias:
Segurança - devido à tecnologia utilizada, oferecem uma camada extra de segurança à custódia das criptomoedas;
Autonomia e controlo - utilizando Digital Wallets, deixa de haver dependência de brokers e corretoras e deixa de haver exposição aos riscos mencionados em cima;
Acessibilidade e inclusão - para nós europeus, isto pode nem ser uma questão, mas há muitos países em que o acesso a um sistema bancário fiável é limitado por diversas razões. A utilização de Digital Wallets é uma alternativa a esta limitação;
Acesso ao DeFi - apesar de algumas corretoras possibilitarem o acesso a algumas funcionalidades do DeFi, existem limitações e, por vezes, taxas escondidas. Com uma Digital Wallet, o acesso a protocolos de DeFi é directo e ter uma, é mesmo um requisito;
Preparação para o futuro - embora este ponto possa ser considerado um pouco especulativo, a verdade é que caminhamos para a tokenização (a passagem de activos para a blockchain - mais um tema para desenvolver futuramente). Não se trata de uma previsão, porque a tokenização de moedas tradicionais como o dólar e o euro, já acontece. A tokenização do ouro, também já é uma realidade. E mais activos deverão seguir-se. A tecnologia está pronta e funciona e são várias as empresas a posicionar-se nesse sentido. Falta apenas tornar-se algo comum. Portanto, entender como funcionam digital wallets, acaba por ser também uma forma de nos preparamos para o que vem aí.
A lista poderia continuar, porque existem mais funcionalidades, mas estas são as principais a destacar neste artigo de introdução às Digital Wallets. Futuramente, aprofundaremos outras funcionalidades.
Parece que não consigo fechar um artigo sem um MAS…
As Digital Wallets são muito bonitas, MAS há duas desvantagens que têm de ser mencionadas:
Segurança - não, não é uma contradição. Da mesma maneira que é uma vantagem, também pode ser uma desvantagem quando não se sabe o que está a fazer ou caso haja algum acidente. Se a pessoa perder as chaves de acesso à sua Digital Wallet, não há nada a fazer. Todo o seu conteúdo está perdido.
Complexidade técnica - de certa forma, deriva do ponto anterior. Apesar das versões mais recentes das Digital Wallets serem cada vez mais intuitivas, a configuração inicial e a sua gestão, ainda pode gerar confusões.
Esta foi apenas uma breve introdução às Digital Wallets.
No próximo artigo, vamos ver como funcionam, os diferentes tipos (cold wallets e hot wallets), as medidas de segurança básicas e outras funcionalidades.