DeFi: Finanças Descentralizadas
Há quem diga que as criptos não servem para nada e há protocolos de DeFi a funcionar há 10 anos...
DeFi, diminutivo para Decentralised Finances (Finanças Descentralizadas), foi o primeiro grande caso prático de utilidade da blockchain e criptomoedas.
Ao contrário daquela crítica básica de que as criptomoedas não servem para nada (e algumas não servem mesmo, conforme falámos aqui), o primeiro protocolo de DeFi - MakerDAO - surgiu em 2014, embora a sua utilização crescente tenha começado em 2016 quando surgiram mais protocolos como o Uniswap ou o Compound.
Portanto, estamos a falar de praticamente 10 anos de utilização e sempre a crescer. Segundo dados de Julho de 2025, haviam mais de 153 biliões de dólares investidos em protocolos de DeFi. Nada mau, para algo que “não serve para nada”.
Enquanto que nos primeiros anos, o DeFi foi utilizado maioritariamente por pessoas particulares, nos últimos 1-2 anos, vimos os grandes players a começarem a entrar no meio:
A Blackrock (a maior gestora de fundos do mundo), lançou o fundo BUIDL em seis blockchains distintas, abrindo assim as portas aos investidores institucionais;
A State Street (uma das gigantes dos serviços financeiros), começou a desenvolver a sua própria solução na blockchain, para interagir com protocolos de DeFi;
O Deutsche Bank desenvolveu também a sua própria solução, baseada na Ethereum;
A Visa e a Mastercard, estabeleceram parcerias com empresas já estabelecidas no sector de cripto, para começarem a integrar stablecoins como forma de pagamento;
A Stripe (uma das maiores processadoras de pagamentos online), já começou a integrar stablecoins na sua infraestrutura de pagamentos;
Outras instituições, como bancos tradicionais, fundos de pensões e seguradoras, estão também a começar a interagir com os protocolos de DeFi mais maduros, como o Aave ou o Maker;
E a lista poderia continuar...
Além do DeFi, há outras áreas/sectores que começam a dar sinais promissores de adopção/integração da blockchain e das criptomoedas, como a Inteligência Artificial, os RWA (Real World Assets), as telecomunicações, a logística e cadeias de distribuição, o gaming ou as infraestruturas.
No entanto, o sector de DeFi é claramente aquele que já deu provas de utilidade prática e do crescente interesse a nível global.
É perfeito? Não. Mas também estamos a falar de um sistema que ainda é uma “criança”. Tem pouco mais de 10 anos de existência e muito para crescer.
Tem-se apresentado como uma alternativa muito interessante a alguns aspectos do sistema financeiro tradicional e, talvez por isso, tem atraído tanto interesse, tanto de utilizadores, como mais recentemente, de grandes investidores.
Por isso, é nele que nos vamos centrar ao longo de mais artigos.
Afinal, o que é o DeFi?
Relembro aquilo que foi dito aqui sobre a Bitcoin e as suas origens - o princípio da descentralização - tornar sistemas descentralizados, que não são controlados por 1 entidade apenas e que são transparentes, já que o código utilizado na sua criação, é público.
Os protocolos ou plataformas de DeFi, propõe-se a fazer exactamente o mesmo com o sector financeiro: disponibilizar aplicações e serviços financeiros que funcionam de forma directa entre as pessoas, sem bancos ou intermediários, usando a tecnologia da blockchain e smart contracts (contratos inteligentes) para tornar as operações seguras, automáticas e acessíveis globalmente.
Como é que isto se traduz na prática?
Com aplicações que disponibilizam serviços similares aos que já conhecemos da banca tradicional: empréstimos, juros, pagamentos, investimentos e trocas de criptomoedas.
Tudo isto, sem ser preciso autorização de alguém, sem o preenchimento de papelada e sem taxas bancárias elevadas.
Como?
Através da tecnologia da blockchain e do uso de smart contracts - contractos programados, que se executam automaticamente, de acordo com determinadas regras definidas previamente.
Estas regras visam a segurança dos utilizadores, a transparência e a rapidez dos processos.
Quais as vantagens do DeFi?
Trazer maior transparência ao sistema financeiro através do uso da blockchain e dos smart contracts que, pela sua natureza, são públicos e podem ser analisados ou auditados por qualquer pessoa;
Democratizar o acesso ao sistema financeiro. Pessoas que tinham o acesso ao sistema bancário tradicional limitado por questões geográficas, políticas ou outras, hoje em dia, precisam apenas de um smartphone e ligação à internet.
Maior rapidez e transparência nos processos, com custos mais baixos para as pessoas.
Mas... e riscos?
Claro que há sempre um MAS e claro que há riscos, quanto mais não seja, porque ainda é algo relativamente novo, que tem de passar pelas suas dores de crescimento:
Riscos de software - os smart contracts são programas informáticos desenvolvidos por pessoas, que não são perfeitas. Apesar de passarem por vários testes e auditorias, há sempre o risco de poder haver alguma falha que possa vir a ser explorada por pessoas mal intencionadas;
Riscos relacionados com os tokens - conforme explicado em artigos anteriores, nem todos os tokens e criptomoedas são criados da mesma forma. É importante saber distingui-los e saber aquilo em que estamos a mexer. A elevada volatilidade e a baixa liquidez de alguns tokens, são aspectos que aumentam exponencialmente o risco da utilização destes produtos.
Gas Fees - este termo refere-se às taxas de utilização de uma blockchain. O argumento de que utilizar produtos de DeFi é mais barato para o utilizador, do que as tradicionais comissões bancárias, pode cair por terra em determinadas circunstâncias. Como já referido, nem todas as blockchains funcionam da mesma forma, logo, as gas fees variam e muito. A título de exemplo, a Ethereum é conhecida por atingir gas fees bastante elevadas em períodos de maior congestionamento da rede - quando há milhões de transacções a serem processadas ao mesmo tempo. É importante conhecer as blockchains existentes e quais aquelas cuja utilização combina eficiência e segurança.
Regulamentação - durante os primeiros anos, foi inexistente. Poder-se-ia dizer que foi faroeste no sector. Mas não necessariamente. Sim, houve exploração indevida mas a comunidade reagiu e resolveu, introduzindo melhorias diversas ao nível da segurança dos protocolos, sem qualquer intervenção de governos ou entidades reguladoras. Entretanto, a UE e os EUA, entre 2024 e 2025 começaram a aprovar as primeiras leis para regular este sector. Estas leis ainda são demasiado genéricas e não cobrem adequadamente as especificidades do sector, o que deixa algumas pessoas desconfortáveis. À medida que o sector continua a crescer e, principalmente, com mais instituições e até Governos a participar, é de esperar que a legislação vá também evoluindo.
Complexidade e falta de supervisão - este risco deriva do anterior. Apesar de já haver alguma legislação sobre o assunto, ela não considera bem a complexidade deste sector e a supervisão do mesmo, também não é totalmente clara. Que organismos estão realmente aptos para fiscalizarem este sector? E a clássica pergunta nestas situações: quem os supervisiona a eles?
Explicado o que é o DeFi, falta explicar:
DEX’s - corretoras descentralizadas;
Como interagir com o DeFi - através de digital wallets;
Serão essas as próximas páginas deste Diário 😉