Ciclos de Mercado - Acções e ETF's
Identificar as fases dos ciclos de mercado, entendê-las e evitar armadilhas.
Bull Market e Bear Market - dois termos que já praticamente toda a gente deve ter ouvido. Os media generalistas costumam referir-se a eles, como "mercados de alta" e "mercados de baixa".
Mas, entre economistas, analistas e investidores, os termos Bull e Bear são mais comuns. Estes termos, nada mais são do que uma versão simplista daquilo que são as grandes fases dos ciclos dos mercados financeiros.
Bull Market - refere-se a um ciclo de alta, quando os preços dos activos sobem de forma prolongada. É um período de optimismo, confiança dos investidores, perspectivas económicas favoráveis. Não existe propriamente um prazo para a sua duração, tanto pode durar meses, como anos. O nome Bull, deriva da forma como os touros atacam, de baixo para cima - que é o mesmo que se vê nos preços dos activos - em subida.
Bear Market - refere-se precisamente ao oposto do anterior: há uma tendência generalizada de queda do preço dos activos. O ambiente nos mercados é de pessimismo, incertezas, indicadores económicos pouco favoráveis e, um volume maior de vendas de activos. Tal como o anterior, também pode durar meses ou anos. O nome Bear, vem da forma como o urso ataca: de cima para baixo - tal como os preços dos activos nestes ciclos: de cima para baixo.
É importante entender a questão dos ciclos de mercado porque, como o próprio nome indica, é algo cíclico, o que significa que há uma certa previsibilidade neles, permitindo aos investidores bem informados e atentos, saberem como posicionar-se.
Há décadas que os mercados funcionam dentro destas ondas, destes ciclos, no entanto, as classificações de Bull ou Bear Market são um pouco simplistas e, são facilmente difundidas pelos media e redes sociais porque, no seu auge, são muito fáceis de identificar.
Qualquer pessoa consegue olhar para uma tabela ou para um gráfico simples, e identificar se está há várias semanas a subir ou a cair.
Bull e Bear, são termos que se referem apenas aos extremos dos ciclos. Antes de se chegar a estes pontos, há outras movimentações que são importantes conhecer - aquelas que são as verdadeiras fases do mercado, aquelas que fazem a diferença nas carteiras de qualquer investidor/a.
As verdadeiras fases dos ciclos de mercado
Os ciclos de mercado mostram-nos os padrões de comportamento dos investidores, que são consequência de uma série de factores, sendo os principais: dados económicos, notícias e eventos geopolíticos.
Como vimos, Bull e Bear são os extremos, classificações que, muitas vezes, são atribuídas em retrospectiva. Pelo meio, há outras 4 fases muito importantes a considerar:
Acumulação - geralmente, acontece após uma grande queda, quando os preços dos activos atingem níveis bastante baixos e os investidores começam a comprar novamente, sinalizando uma possível reversão.
Mark Up ou Uptrend (tendência de subida) - quando o sentimento geral do mercado começa a ser mais optimista e começamos a ver subidas de uma forma generalizada - meses depois de iniciada esta fase, é quando os media começam a dizer que estamos num Bull Market;
Distribuição - quando os vendedores começam a dominar o mercado e começamos a ver grandes correcções nos preços;
Mark Down ou Downtrend (tendência de queda) - quando a pressão vendedora é tão grande, que os preços só descem - meses depois de iniciada esta fase e de muito se discutir se se trata de uma correcção ou não, é quando os media começam a dizer que estamos num Bear Market
Charles Dow e Richard Wyckoff são dois dos grandes nomes responsáveis pelos estudos que identificaram estas fases. São os responsáveis pela Teoria de Dow e pela Teoria de Wyckoff que, desde o início do século XX, têm sido seguidas e usadas por muitos investidores. São teorias com praticamente 100 anos e que continuam a funcionar hoje em dia.
Existem muitos livros dedicados ao assunto e que são altamente recomendados, para quem quer entender melhor o funcionamento dos ciclos.
De uma forma muito simplista e, sem querer assassinar as teorias destes Mestres, aqui fica uma representação visual:
Na prática, como é que isto tudo se traduz?
Para responder a esta pergunta, precisamos de mais um gráfico. Olhemos para os últimos 15-16 anos do S&P500:
A Queda de 2008 provocada pela crise do subprime e consequente crise financeira global;
Seguiu-se um período de Acumulação entre 2009 e 2013, com a recuperação da crise;
De 2013 a 2020, assistimos a um período de crescimento consistente - o período de Alta;
Em 2020, COVID, choque e queda dos mercados - há muito debate se este acontecimento se enquadra na Teoria de Dow, já que aconteceu durante um período de Alta e a recuperação foi rápida. Meses depois, o mercado estava novamente em máximas históricas;
2020-21: continuação da Alta dos anos anteriores ou impulso dado pelos estímulos à economia pós-pandemia? O certo é que os mercados subiram para novas máximas;
2022 - período de Queda/Distribuição. Seguido de uma fase de Acumulação (2023)?
Actualmente, estamos no meio de um ciclo, pelo que é difícil fazer afirmações com elevados graus de certeza. Há quem veja sinais de uma possível Bolha, há quem defenda que as consecutivas máximas históricas são sinais de crescimento, há quem olhe para os dados da inflacção e emprego e alerte para um período de Queda eminente… enfim, tudo isto é discutível.
Estas Teorias são mais facilmente observáveis em retrospectiva. Ainda assim, não deixam de ter importância, pois ajudam-nos a dar algum enquadramento/contexto para o momento actual.
A vertente psicológica
Outra forma de interpretar estes ciclos, é pela vertente psicológica:
Este é um gráfico muito partilhado nas redes sociais e que faz um paralelismo entre as teorias anteriores e aquilo que são as emoções a que podemos assistir entre os participantes no mercado, durante as diferentes fases dos ciclos.
Descrença - começam a haver pequenos sinais de recuperação, mas poucos acreditam que seja sustentável;
Esperança - os preços começam efectivamente a subir e começa a surgir algum optimismo;
Optimismo - depois de várias sessões de subida, a maioria percebe a tendência de alta e o optimismo instala-se nos mercados;
Crença - a confiança está em alta, o aumento dos investimentos é notório, começa a espalhar-se a notícia de que estamos num Bull Market;
Euforia inicial - a confiança continua a aumentar e aumentam também os riscos assumidos pelos investidores;
Euforia máxima - toda a gente acha que é um excelente investidor. O optimismo atinge o exagero e, geralmente, também o Bull Market;
Complacência - começam a acontecer pequenas quedas, que são vistas como ajustes normais. Geralmente, a confiança mantém-se;
Ansiedade - as correcções começam a dar lugar a quedas prolongadas. Começam a surgir as dúvidas;
Negação - a recusa em aceitar que a tendência mudou. Apesar das dúvidas, ainda permanece a ideia de que as empresas sólidas vão devolver bons resultados;
Pânico - as vendas começam a ter um volume cada vez maior, o medo espalha-se e o comportamento geral é o de vender, para evitar mais prejuízos;
Capitulação - o "atirar da toalha ao chão". Muitos saem do mercado e juram nunca mais voltar;
Raiva - geralmente, surge muito perto da "Capitulação". Os que ficam no mercado descarregam a sua raiva e frustração em alguém, apontando dedos a algum culpado (mas sem nunca olhar para o espelho).
Depressão - instala-se a descrença e desilusão com os mercados e o medo de voltar a investir;
Descrença - o regresso ao início de outro ciclo;
Conclusão
Quem já passou por, pelo menos um ciclo inteiro, já comprovou todas estas emoções - seja na própria pele ou através de outros próximos.
O mais importante a realçar nestes gráficos, é o papel da psicologia colectiva e daquilo que pode acontecer, quando não somos capazes de pensar de forma independente, nem de fazer as nossas próprias análises.
Quem já tiver estudado um pouco de psicologia sabe que o comportamento de massas é real, manipulável e amplificável e, no caso dos mercados financeiros, isto representa um grande desafio para os/as investidores/as, na hora de manter o domínio emocional e intelectual.
Por outro lado, ter noção da existência destas fases, reconhecê-las e identificá-las, pode ajudar-nos a evitar armadilhas.
Embora este artigo esteja arquivado na secção “Acções/ETF’s”, toda a lógica daquilo que aqui foi dito, é igualmente aplicável no mercado das Criptomoedas. Mas, como este é cheio de nuances, no próximo artigo, iremos olhar para os seus próprios Ciclos de Mercado.